A primeira impressão que se tem ao abordar o fenômeno organizacional é
que enfrentamos uma realidade heterogênea e, daí, não falta razão a Morgan
(1986) quando, em um tom ligeiramente irônico, entende que as organizações são
o que as diversas teorias explicativas delas próprias afirmam sobre elas
mesmas.
Esta opinião é, em parte, compartilhada por Schvarstein (1991), ao
afirmar que a organização é uma realidade reclamada pelos estudiosos da
psicologia, antropologia, sociologia, direito, engenharia, arquitetura,
administração e economia, sem que nenhuma destas áreas científicas possa
reclamar, de forma proeminente, o seu sentido.
O conhecimento acerca das organizações será sempre algo aberto e
incompleto, sentencia Schvarstein (1991), dado que a própria realidade que se
pretende expressar é complexa e multifacetada.
Entre as diferentes perspectivas de abordagem da realidade
organizacional, a perspectiva psicossocial se caracteriza por referir-se a um
dos âmbitos científicos mais frutíferos da Psicologia, a Psicologia Social.
Se a Psicologia é a “ciência da mente”, a Psicologia Social é, nas
palavras de Morales et. al (1994), a “ciência da mente e da sociedade”.
Isto é, é a ciência encarregada da análise, avaliação e intervenção da
relação mútua entre o indivíduo e o seu ambiente social.
No contexto organizacional, a perspectiva psicossocial parte da
consideração, de um lado, de que existem processos psicológicos que determinam
a forma como funcionam as organizações e a forma da interação social entre os
seus membros e, por outro lado, assume que os processos sociais, por sua vez,
influenciam o pensamento, as emoções e a conduta dos membros da organização.
Desta perspectiva, o trabalho é concebido “como um fenômeno cujo estudo
não se esgota na análise da atividade social como resultado da interação e da
vida humana em sociedade”.
Seu significado se expande e se completa no quadro da cultura e da
sociedade em que é produzido, embora a sua expressão concreta nestas áreas influencie
e condicione a vida das pessoas que constituem a sociedade e os grupos sociais
e coletivos que a compõem (Peiró, Pietro e Roe, 1996).
A partir destas considerações podemos estabelecer que a perspectiva
psicossocial tem como objeto de estudo o “processo de interação”, daí que
quando falamos de “riscos psicossociais” estamos nos referindo a todos aqueles
aspectos que têm o potencial de causar danos aos trabalhadores(as) e cuja
etiologia se enquadra nos processos interativos do indivíduo com o seu ambiente
laboral.
Tradicionalmente, o conceito de ambiente laboral foi conceituado no
quadro do espaço físico no qual se desenvolve uma determinada conduta.
Desta consideração, se desenvolveu a Ergonomia do Ambiente,
recentemente denominada de Ergonomia Ambiental.
No entanto, a todos estes aspectos deve somar-se o denominado pelos
pragmáticos da comunicação humana, de “ambiente psicossocial”, que leva em
conta as relações interpessoais que se estabelecem entre os membros da
organização assim como o conjunto de estratégias organizacionais, os sistemas
de gestão dos recursos humanos, os modos e sistemas de trabalho (horários,
turnos, ritmos de trabalho, pausas e descansos), que, embora sejam
desenvolvidos dentro de espaços físicos, apresentam cada um deles modos específicos
de operações, dependendo do tipo de organização em que se desenvolvem.
Todas estas condições contribuem para o aparecimento, desenvolvimento,
manutenção e extinção dos riscos psicossociais.
No entanto, é preciso acrescentar que a perspectiva psicossocial
considera, que os indivíduos e os grupos não só se adaptam ao
ambiente e reagem a ele, mas também atuam sobre ele e contribuem para moldá-lo, de uma forma ou de outra.
Bibliografia:
Morales, J.F. Moya, M., Rebolloso, E., Fernández Dols, J.M., Huici, C., Marques, J., Páez, D. y Pérez, J.A., 1994. Psicología Social. Madrid, McGraw Hill.
Morgan, G, 1986. Imágenes de la organización. Madrid, RA-MA
Peiró, J.M., Prieto, F. y Roe, R.A., 1996. El trabajo como fenómeno psicosocial. En Peiró, J.M. y Prieto, F., Tratado de Psicología del Trabajo, Volumen II. Aspectos psicosociales del trabajo. Madrid, Síntesis.
Schvarstein, L., 1991. Psicología social